À
procura de mim
Estou
sempre me procurando para argumentar comigo mesmo, mas nunca me encontro. Estou
sempre em rampa oposta, um subindo, outro descendo, na contramão de mim, razão
e sentimentos separados.
O engraçado é que ambos, separadamente,
por coincidência ou intenção, me levam ao mesmo pântano escuro, sombrio, lotado
de armadilhas, areia movediça, plantas carnívoras, terreno acidentado plantado
com bombas e tentáculos mortais. Seria essa a definição de destino?
No limiar da entrada acontece a
divergência. A razão me empurra para um lado e os sentimentos para outro,
oposto nos mínimos detalhes.
O caminho ofertado pela razão parece
mais equilibrado, com uma limpeza indescritível para um pântano, mas igualmente
perigoso, de maneira que a lógica poderia me salvar dos meus arroubos de
rebeldia e atitudes pueris.
A direção que os sentimentos me
apontam são turnos, sensíveis, incrivelmente belos para um local tão
assustador. Atraem com um sorriso dúbio, que planta a incerteza em meu ser,
mesmo insinuando as delícias infindáveis que atingem o meu corpo frágil e
repleto de desejos.
Não consigo conversar comigo mesmo,
mas algo me diz que ambos os caminhos darão no mesmo lugar. Basta que eu
consiga escapar sem arranhões profundos, ferimentos que me destruam antes que
alcance o equilíbrio e a junção entre corpo e alma, razão e sentimento. Seria
essa a definição de paraíso?
Não me alcanço e afundo em meus
terrores a cada noite, na geladeira da razão, congelando até o amanhecer,
confuso com a necessidade de obter alguma coisa que me complete, ou mergulhado
no caldeirão dos prazeres a ponto de sufocar querendo um pouco de controle para
dominar a mim mesmo e alcançar a tão sonhada perfeição.
Seria isso possível de alguma forma?
Ou a procura inacabável é o verdadeiro elo do ser humano com Deus, nadando por
águas turvas e descansando nas nuvens, a seu tempo.
Por um ínfimo segundo nossos olhares
se cruzam, e, oh, Deus sabe o quanto é lindo viver assim!
Marcelo Gomes Melo