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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A lapa voluptuosa

 

Era uma lapa de bife de uns cinco quilos, sem mentira nenhuma! Estava lá, exposto para quem quisesse ver e desejar, rosado, fresco, macio... O preço? Quem pensaria no preço em um primeiro momento?! Era só fixar os olhos e salivar, imaginando poder degustar infinitamente aquela lapa de carne nobre.

Todos os que passavam, acompanhados ou sozinhos, não eram capazes de desviar o olhar. Inspiravam profundamente, as mãos tremiam de leve, mastigavam instantaneamente, sem se darem conta do movimento.

Em uma época diferente como essa na qual vivemos, em que problemas aderiam a qualquer pensamento livre e causavam preocupação em expor os pensamentos, o que se estava vendo poderia não ser exatamente verdadeiro em cem por cento, apenas uma alucinação causada pelo desejo principalmente dos que já tiveram em abundância, e agora não mais, com toda certeza.

O dono ostentava os dentões para fora, sorrindo de orgulho e felicidade, não havia preço fixado visivelmente para quem quisesse adquirir aquela lapa voluptuosa, o que deixava claro que deveria ser para poucos. Desejar ainda não pagava imposto, então até o menos financeiramente recomendado, completamente fora de um possível leilão deixava de inspirar, impregnando as narinas com o cheiro, comer com os olhos, apertar as mãos como se manuseassem a lapa, julgando a si mesmos proprietários maravilhosos e alegres.

O que fazer para adquirir aquela lapa era o segundo pensamento. Comentários eram trocados entre os admiradores, que opinavam sobre os poucos que poderiam possuir tal iguaria. Políticos, os de alta patente. Empresários, sobretudo os estrangeiros. Ninguém além deles. Era algo assim que poderiam causa revolta na população. Uma revolta que aumentaria e se transformaria em uma guerra pela posse da lapa, causando destruição e morte.

Não era assim com os diamantes? Com as preciosidades que existiam em quantidade reduzida e aumentavam o valor, transformando homens honestos em ladrões, pobres em trapaceiros, religiosos em endiabrados, calmos em histéricos?

O fato é que a lapa estaria ali durante certo tempo para eu todos vissem, desejassem e sonhassem, até que um poderoso a adquirisse, e a fizesse sumir dos olhos cobiçosos.

Com o tempo surgiria outra, diferente, melhor... E quem adquiriu a anterior já teria sido satisfeito, querendo agora buscar novas aquisições. O mundo funciona assim, indefectivelmente.

 

             Marcelo Gomes Melo

sábado, 24 de fevereiro de 2024

A única coisa verdadeiramente em comum entre os seres viventes


 

        O final é sempre o mesmo. A morte. O ciclo que deve ser cumprido por todos os seres vivos como os conhecemos. E não se trata de uma ode ao fim da vida, apenas pura constatação de um lento e constante observar do caminho traçado e seguido na face da Terra.

        Passemos, pois às argumentações: caso tenha assistido ao filme estrelado por Brad Pitt, “O curioso caso de Benjamin Button”, que trata de um personagem que nasce velho e vai rejuvenescendo inexplicavelmente, estará apto a filosofar a respeito da inevitabilidade da morte. Button rejuvenesce, entretanto isso não significa que viverá para sempre, não se trata de imortalidade, o que nos faz pensar que é apenas uma maneira reversa do que os seres experimentam em suas jornadas.

        Nascemos, crescemos, nos desenvolvemos e morremos, inevitavelmente. Como uma flor é semeada, nasce, se desenvolve, atinge o auge da beleza, murcha e desaparece. A diferença entre todos os seres se dá apenas no tempo em que isso acontece: uns mais, outros menos.

        A morte é o que os une intrinsecamente, algo que não é muito percebido pelos seres humanos comuns, que ignoram o fato, por medo o por serem moldados assim, para não pensar. Passam, então a evitar, através de múltiplos meios a chegada do final do caminho.  

         E caso o destino dos seres fossem, como Benjamin Button nascer velho, com todo o conhecimento adquirido e os percalços da existência já superados, as cicatrizes já prontas, o sentimento, a emoção descontrolada já sob total domínio, e a partir daí começassem, no mesmo ritmo a rejuvenescer, perdendo todo esse conhecimento já adquirido, retornando ao rumo incerto e ansiedade voraz? O final seria, de alguma forma diferente? Ou chegariam ao ponto de sumir, voltando ao útero e em seguida espermatozoide, o que significaria morte, como a conhecemos?

        O ciclo de existência não seria o mesmo, o destino não seria realizado apenas de forma inversa?  Nesse caso, o fato de a maioria dos seres evitarem falar na morte seria adequado, por ser uma coisa inviável e desnecessária, a não ser para os filósofos, que encontram nessa reflexão algum sentido em existir, ou poetas, que descrevem a dor de algo tão forte e inexpugnável como o é amar indisciplinadamente, restando receber a (segundo eles) punição pela perda do ser amado.

        Não é fúnebre nem insensato raciocinar em torno da morte, visto que dá uma nova perspectiva ao viver, e ao que significa levar a própria vida com estoicismo, sofrendo menos, supostamente.

        Ah, os desvarios que se inserem nos cérebros e corações humanos, fadados a sobreviver em terra estranha sem saber por que ali estão, sequer até quando estarão e para onde irão, quando partirem!

 

                               Marcelo Gomes Melo

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

O meu lírio


 

Acalma teu espírito ao som da lira

E segue o teu caminho de olhos fixos

No nada

Persegue o invisível com uma taça

De absinto

O corpo desgastado, amarfanhado

Não comporta mais a alma

 

Meu lírio! O que reage ao prazer

Ininterrupto como águas de um rio?

Coisa alguma, eu afirmo, insensível

Incansável, murmurando o indizível

Meu lírio! Protegido com a armadura

Dinâmica dos sonhos

 

Acalma o teu espírito mastodôntico

Segue o teu rumo, empedernido

Sem olhar para os lados

Sem enroscar nas outras vidas

Que te cercam, o lírio dos campos!

 

Por distante que seja a viagem

Submissão comprada, tomada

Ou combinada ainda é submissão

Meu lírio... Sumindo em paz

Como areia por entre os meus dedos

 

Marcelo Gomes Melo

Sobre de que o tempo trata

  Chore, não porque o queira, mas porque é necessário Expurgue através das lágrimas esse sofrimento maléfico E indiferente que lhe cor...